SEGURANÇA X LIBERDADE (ou, Ovelhas e Lobos)

SEGURANÇA X LIBERDADE (ou, Ovelhas e Lobos)

Maurício Michaelsen
Maurício Michaelsen
Nestes tempos de debate aberto e rápido, vejo muitos jovens que, sem sequer perceberem, ainda cedem à doutrinação socialista arquitetada há mais de um século, para assim postarem-se, de forma anacrônica e contra a livre democracia, atacando um candidato 'demonizado' pelos seus opositores por meio da desprezível e insidiosa propaganda socialista.

O socialismo foi concebido de maneira a ser professado apenas por intelectuais, atraindo desta forma cada vez mais os jovens estudantes que cuidavam de disseminar as mantras socialistas para o proletariado, que pouco entendia daquela linguagem complexa, mas que a repetia incessantemente como fazem as ovelhas perante o pastor, para assim sentirem-se protegidas.

A mentira e a fraude estavam escondidas naquele discurso, porque eram as armas mais poderosas, que enganavam e corrompiam.

Mas aquelas técnicas persuasivas tinham seu limite, porque todos os argumentos eram contestáveis e improváveis, e por isso não poderiam ser admitidas vozes dissonantes, pois poderiam quebrar o encanto da sinfonia utópica e fazer surgir o pensamento individual e livre da dominação.

Da dominação intelectual sobreveio a dominação política e social em alguns países, que durou por muito tempo, oprimindo e matando milhões de pessoas.

Observando os fatos históricos nestes períodos, se verificou como o comunismo, tal qual uma neoplasia, ao ser extirpado do leste europeu, em seu derradeiro final com a queda do muro que separava a humanidade, foi rapidamente se instalar na América do Sul, onde a juventude era menos desenvolvida e ainda oprimida pela cultura colonialista, e por isso ainda mais suscetível à dominação intelectual.

Notadamente, houve forças inversas originadas em países capitalistas, que se opuseram ao comunismo, o que deu ainda mais força para o socialismo instalar-se, então sob a bandeira de 'revolucionários socialistas' contra 'imperialistas capitalistas', dos pobres contra os ricos.

Mas esses tempos já passaram, e o discurso intelectual maniqueísta socialista que separa a humanidade em basicamente dois grupos isolados acabou sendo confrontado com a realidade implacável dos novos tempos da informação livre, em que mentiras e fraudes, por mais disseminadas que sejam, tão rapidamente como surgem, também são descobertas.

As pessoas, assim, lentamente, começaram a sair da catarse e pararam de balir como ovelhas indefesas enquanto as palavras de ordem vazias ainda eram repetidas, e, finalmente, apercebendo-se como vítimas de uma implacável e voraz corrupção, se voltaram furiosas contra os pretensos líderes e seus arautos.

Mas ao surgir de novas vozes que se atreviam a enfrentar o alto conclave dos ultrapassados pastores intelectuais, estes rapidamente se moveram contra todos aqueles que ousavam discordar de suas ideias, acusando-os de serem lobos em pele de ovelha, porque reagiam abertamente à doutrinação, e porque ovelhas devem ser apenas ovelhas, pois qualquer um que demonstre capacidade para reagir ao corrompido ideal socialista deve ser logo rotulado como 'fascista', 'um ser violento' ou 'insano', mas não mais um humano.

É fato histórico que a erradicação violenta e o terror também sempre foram ferramentas importantes ao comunismo. O atentado contra a vida de quem ousa se opor ao regime sempre se mostrou muito eficiente, pois além de silenciar a voz que perturba as ovelhas, também causa o medo e o desestímulo para que outros tomem seu lugar.

Mas nestes novos tempos, em que até mesmo a morte perdeu sua importância, a descoberta da ruína moral dos líderes socialistas, antes tidos como humanistas, tornou-se causa irresoluta da desilusão definitiva de um povo que aguardava à décadas pela concretização do sonho de uma sociedade igualitária.

Caros estudantes, passada a catarse socialista, o que se redescobriu é que não somos iguais, e nunca iremos ser.

A força da humanidade reside justamente em suas diferenças, e na capacidade de cada um contribuir de forma diferente, na medida de suas desigualdades. E, principalmente, na capacidade de superação de cada indivíduo, que pode ir além de seus próprios limites, ainda mais quando encontra na sociedade a proteção e a segurança necessárias para seu crescimento pessoal.

Os fundamentos do surgimento da sociedade residem justamente em um sistema de trocas. E a maior delas, o embrião do Estado moderno, desde os primórdios, foi a troca representada pelo binômio 'Liberdade x Segurança'.

Assim foi desde o princípio, quando antigos criadores de rebanhos e agricultores se viram obrigados a ceder uma parte de sua produção (tributos) para pessoas que não iriam cultivar ou criar gado, porque estes iriam empunhar armas e proteger a todos contra invasores e outras ameaças, ou simplesmente liderar, garantindo-se assim a segurança do grupo e aumentando as chances de sucesso dos indivíduos.

E agora voltando nossas atenções para o tempo presente, neste momento histórico de nossa evolução social, diante da possibilidade que nos garante nossa Democracia, de escolhermos nossos próprios governantes, nos descobrimos compelidos em optar por um líder militar.

Mas não estamos fazendo esta escolha porque somos ignorantes, nem porque nos tornamos, de repente, como num passe de mágica, todos 'fascistas', mas simplesmente porque a sociedade sofreu um grave retrocesso, ocasionando inclusive alguns recentes colapsos sociais, mas de tal importância que todas as pessoas, no país e fora dele, puderam perceber e entender, em meio a um dramático despertar, que o Estado que vinha sendo idealizado por tantos e por tanto tempo acabou se tornando absolutamente ineficiente em todas as áreas essenciais, especialmente na saúde, na educação e na segurança pública, não obstante ter se atingido a mais alta carga tributária da história deste país.

Sim, meus caros estudantes, a verdade é que o povo tem agora necessidades bem mais imediatas do que ser 'iluminado' pelo discurso socialista. E a única igualdade que as pessoas realmente buscam é a de não serem mais enganadas e espoliadas por aqueles que, além de nada produzirem, abandonaram os trabalhadores e os estudantes deste país a uma insegurança nunca antes vista.

A sociedade é meio, não é fim. E nenhuma sociedade, para cumprir seu objetivo, deve descuidar-se de proteger o indivíduo.

Nunca haverá liberdade se não houver segurança, e merece ser considerado abjeto qualquer discurso narcisista intelectual que professe o contrário.

O indivíduo é livre para pensar e acreditar no que quiser, mas perde a liberdade quando não é mais possível reagir à doutrinação. É o caso da Venezuela.

Caros estudantes, não temam a ovelha que não quer balir igual as outras ovelhas, ela não vira um lobo só porque mostra os seus dentes, apenas não quer ser dominada.

Quando isso acontece, os falsos pastores, naturalmente, sentem medo, e procuram fazer com que todos sintam com eles o seu medo. E o medo leva ao ódio, e o ódio leva a discórdia e a divisão.

Caros estudantes, não se amedrontem, mudanças virão porque a democracia assim o permite, e por isso devemos ter esperança e buscar unidade.

Como outrora a vontade de muitos levou ao poder ladrões, corruptos e assassinos, em breve testemunharemos o ocaso dos antigos deuses e o nascer de um novo tempo, de uma nova história, e por mais que mintam para vocês, nunca poderá se repetir o passado.

Porto Alegre, RS, 15 de outubro de 2018.

Maurício Michaelsen, advogado e cidadão, não sou ovelha e não sou lobo.

Comentários